sábado, 21 de abril de 2007

Jethro Tull – Citibank Hall, Rio de Janeiro – 21/04/2007

Texto: Rodrigo Werneck
Fotos: Pedro Paulo Moreira e Rodrigo Werneck

Contumaz visitante de nossas aprazíveis metrópoles, a clássica banda progressiva britânica Jethro Tull acaba de iniciar sua mais nova turnê brasileira. A primeira cidade contemplada com o novo espetáculo eletro-acústico do grupo foi o Rio de Janeiro, e a casa de shows escolhida foi o Citibank Hall (ex-Claro Hall, ex-ATL Hall, ex-Metropolitan). Com uma configuração com cadeiras à frente e a pista “pra galera” atrás, o que se espera é uma frieza maior do público e da banda. Pelo menos não foram colocadas mesas dessa vez, talvez por exigência da banda. Em outra oportunidade, o líder, flautista, violonista e vocalista Ian Anderson chegou a reclamar que mesas eram para apresentações de mágicos, ou Ray Conniff, Richard Clayderman e afins, e não para shows de rock. Não se sabe se foi atendido dessa vez, mas de qualquer forma o público não hesitou em se levantar nos momentos mais quentes do espetáculo.

Acompanhando Anderson estavam seu fiel escudeiro Martin Barre (guitarra), na banda desde o segundo disco, “Stand Up” (1969), assim como o baterista Doane Perry, já há muitos anos se apresentando com o grupo. Completando, vieram John O’Hara (teclados, acordeon), David Goodier (baixo) e a violinista convidada Ann Marie Calhoun, que tocou em quase todas as músicas, e fez os fãs recordarem a época na qual o violinista (e tecladista) Eddie Jobson estava na lineup.

Com um repertório dividido entre clássicos dos anos 70 e músicas mais novas, e entre peças mais acústicas e outras mais pesadas, foi uma apresentação bastante eclética. O som estava ótimo, com todos os instrumentos bastante audíveis. O público, algo entre 3.500 e 4.000 pessoas, era dividido entre o pessoal da velha guarda, que acompanha a banda desde seu início, e novos fãs (muitos de fato bem jovens), que injetaram um novo gás na popularidade do Tull no Brasil, uma renovação mais do que saudável.

O princípio do show se deu com apenas Ian Anderson (na gaita e voz) e Martin Barre (na guitarra), levando “Some Day The Sun Won’t Shine For You”, do primeiro disco do JT, “This Was” (1968). O público vibrou com a aparição dos 2 lendários músicos, que valorizaram sua presença através desse dueto inicial. O clima começou a esquentar com a execução de “Living In The Past”, já com toda a banda reunida no palco e num arranjo similar ao do DVD “Living With The Past”. Conforme Anderson anunciou, uma das poucas músicas na história feitas em 5/4 a entrar nas paradas de sucessos. Esta foi seguida por uma ótima versão para “Pastime In Good Company”, peça tradicional composta pelo Rei Henrique VIII, e que já foi gravada por artistas como Blackmore’s Night. Foi a primeira entrada de Ann Marie e seu violino, e logo de cara foi fácil perceber que sua participação nos shows da banda é muito mais que de mera convidada; seu papel é de grande relevância nos novos arranjos, e seu estilo é carismático e de grande efeito (sonoro e visual). Por outro lado, os demais integrantes estiveram um pouco contidos na minha opinião (à exceção de Anderson, é claro), numa performance eficiente mas um tanto quanto burocrática.

O show prosseguiu com “Jack-In-The-Green”, do ótimo disco “Songs From The Wood” (1977), e a nova “The Donkey And The Drum”, muito boa por sinal, e que estará no próximo CD da banda. Segundo Anderson anunciou durante o show, eles já têm umas 6 músicas prontas para tal lançamento, e completarão o álbum nos próximos meses. Um dos pontos altos de qualquer concerto do Tull se seguiu: “Thick As A Brick”, para delírio da galera presente. Não a versão original de 40 minutos, é claro, mas uma mais condensada com pouco mais de 10 minutos. Seguiram-se outros clássicos: “Bourée”, adaptação da peça de Johann Sebastian Bach e presença obrigatória nos shows, e “Sweet Dream”, do disco “Living In The Past” (1972). É relevante salientar que em “Bourée” o baixista Goodier e o tecladista O’Hara têm seu momento de destaque, com direito a pequenos solos.

Em seguida, foi a oportunidade para Ann Marie Calhoun e seu violino mostrarem serviço. Duas composições de sua autoria se seguiram: “Bluegrass In The Backwoods” (como o nome implica, um autêntico “bluegrass” conduzido de forma frenética pelo violino), e “Runty” (segundo Anderson, uma homenagem dela a sua gata, homônima).

Seguem-se a nova e inédita “Birnam Wood To Dunsinan” e “Beside Myself” (do disco “Roots To Branches”, de 1995), mantendo o pique. Um momento de brilho para o guitarrista Martin Barre aparece na música seguinte, a instrumental “Steal”, de seu primeiro disco solo, “A Trick Of Memory”. Anderson deixa o palco e Barre assume o posto de frontman, tendo a banda a seu reboque.

Hora de mais clássicos, e num arranjo totalmente novo levam “Aqualung”, numa longa versão, bastante diferente da original, com a flauta de Anderson, o violino de Ann Marie e a guitarra de Barre se revezando nos solos. O arranjo novo ficou bom, mas não se compara à versão original e às versões ao vivo apresentada nas outras passagens do grupo pelo Brasil, que literalmente traziam a casa abaixo.

Uma inclusão inusitada foi “America”, obra composta por Leonard Bernstein, sendo que a performance do Jethro Tull foi na realidade uma adaptação feita a partir da versão do The Nice (para quem não sabe, a banda do tecladista Keith Emerson nos anos 60, antes do Emerson Lake & Palmer surgir). Antes de sua execução, nos tradicionais discursos de Ian Anderson explicando o cenário no qual determinada música foi composta, contando pequenos detalhes ou piadas no melhor estilo britânico, ele comentou que se tratava de uma homenagem genérica à música dos EUA, salientando que apesar do mundo hoje ter uma visão anti-americana muito forte, há ainda muita coisa boa por lá, tirando “aquele burro na Casa Branca” e outras figuras do mesmo naipe. Isso tudo para comentar que 2 dos membros atuais do grupo são norte-americanos: o baterista Doane Perry e a violinista Ann Marie, sua atual “protegida”. Durante a apresentação de “America”, vários trechos de outras obras foram inseridos, numa verdadeira ode à obra musical norte-americana contemporânea (mais precisamente, a do século passado).

O ponto alto da noite veio a seguir na forma de “My God”, grande clássico lançado originalmente no disco “Aqualung” (1971). O Jethro Tull em sua melhor forma, juntando peso e sutileza na medida certa, harmonias e melodias ricas e inspiradas, e uma performance vocal apurada de Anderson (em especial para quem presenciou sua completa falta de voz na última vinda ao Brasil com a banda). “Budapest” (de “Crest Of A Knave”, 1987) manteve o nível alto, numa performance de mais de 11 minutos, todos muito bem aproveitados pela banda e pelo público, a essa altura extasiado mas querendo mais.

Hora da rápida saída estratégica e posterior retorno para o bis, que ficou a cargo da empolgante “Locomotive Breath”, também do disco “Aqualung”, que com sua guitarra “cavalgante” contagiou a todos os presentes. Anderson parecia não sofrer qualquer revés da idade, pulando, cantando e tocando sua flauta de forma visceral. Barre, mais contido, atacou sem piedade seu instrumento, concedendo um alto peso ao número de encerramento. Após quase 2 horas de apresentação, a banda se retirou do palco sabedora de ter cumprido com seu papel.

Setlist:

1. Some Day The Sun Won’t Shine For You
2.
Living In The Past
3. Pastime In Good Company
4. Jack-In-The-Green
5. The Donkey And The Drum
6. Thick As A Brick
7. Bourée
8. Sweet Dream
9. Bluegrass In The Backwoods
10. Runty
11. Birnam Wood To Dunsinan
12. Beside Myself
13.
Steal
14. Aqualung
15. America
16. My God
17. Budapest

Bis:
18. Locomotive Breath

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